terça-feira, 29 de julho de 2014

Sentir

A poesia verdadeira não está nos decassílabos
Nem mesmo na complexidade das palavras
É o que move a vida, é o que há por trás dela

São os gestos, os risos; as partilhas, as entregas
É o tudo de alguém que não tem nada
É o nada de alguém que tem tudo

É toda queda livre medida pelo espaço percorrido
E o tanto de lágrimas até chocar-se contra o chão
É o contrair-se e descontrair-se da alma e do coração

A poesia é o pulsar, e não as frases feitas
Nem os pontos, esses mesmos que não são
Nada morre; tudo se eterniza na memória
A poesia é infinita no longo espaço do viver

segunda-feira, 5 de maio de 2014

Para o Sol

Chovia bastante. O vidro da minha janela já estava tão embaçado que não conseguia enxergar as flores do lado de fora. Como se não bastasse, começou a trovejar e tudo ficou escuro. Escondi-me num cantinho feito de medo, de solidão. Sei que alguém tentava abrir a porta, mas não queria me machucar. O inverno em mim foi forte e sombrio. Mas, de repente, a chuva passou. O frio que corroía meu corpo foi embora, trazendo a brisa suave da primavera. Pude ver as flores desabrochando, ouvir os pássaros cantando e o Sol… Ah, o Sol! Com aquele formato de boca desenhada, sorriu para mim, iluminou o meu quarto inteiro e me tirou daquele cantinho. Fez com que eu abrisse as portas, a casa, o mundo inteiro. E depois de transformar a sombra em luz, mostrou-me, através de seus olhos cor de mel, o quão bonito o meu lar estava. Não quero o inverno de novo, Sol. O teu brilho iluminou minha morada. Então vamos fazer assim: faz-se verão permanente em mim?
Ai, menina, ainda bem que tu abriste a porta do coração! É que tem muita coisa foge dos teus olhos castanhos para tu deixares passar em branco. Consegues ver as cores, os amores, os temores? Em tudo tem caos, mas quem te disse que isso é ruim? Tem confete de alegria também, pequena, para ti, para mim, para nós; e posso te contar um segredo? Eu ainda acho que esse riso frouxo é que vai dominar o mundo!

Destrancar para deixar o simples entrar

Hoje, vim desabafar. Não por estar triste, mas por achar que certas coisas na vida passam despercebidas por nós, e apesar de ser um pouco piegas, eu quero falar. Por exemplo, um dia desses, com a cabeça a mil com esse ir e vir das coisas, com essa obrigação velada de saber e de lembrar de tudo, estava eu num ônibus lotado, de mau humor e xingando todas as pessoas do mundo por ter que estar ali. Porém, de repente, olhei uma criancinha gargalhando no carro ao lado e parei todos os meus pensamentos para apreciar o riso sem motivo daquela pequenina. Então, eu me indaguei: quantos espetáculos a vida nos oferece? Quantos cenários belos Deus nos dá para apreciarmos? E quanto disso nós vemos? Você já parou para observar o formato mágico das nuvens em um dia seu totalmente corrido? E uma flor, você já reparou na beleza dela, enquanto prédios tentam escondê-la? Caro leitor, se você nunca parou o coração e a alma para apreciar coisas simples, mas lindas como essas que mencionei, eu te convido a parar. Abre as portas do coração, destranca as janelas da sua alma e inspira o que a vida, o que Deus lhe dá todos os dias. A felicidade está na simplicidade!

Amor e bicicleta

O amor é mais ou menos como andar de bicicleta. Quando você a vê, a primeira coisa que sente é vontade de andar, sem se importar com as quedas, com os obstáculos ou afins. Então, você tenta pedalar e até consegue quando tem alguém te segurando; mas quando te soltam, você não acha o equilíbrio e bate o desespero, o coração aperta, a adrenalina corre nas suas veias, você sabe que vai cair e, mesmo assim, não para. A bicicleta balanceia, entorta aqui, entorta ali e, finalmente, você encontra o chão. Dói, dói bastante. Você segura o choro, porque tem gente ali pra te observar, mas, assim que eles viram, você chora. Ou, às vezes, você nem liga se tem alguém pra ver ou não e chora na frente de quem quer que seja. Feridas são abertas na sua pele, feridas feias - em sua grande maioria - e dolorosas. Daí, um anjo vem com um remédio, uma pomadinha e alivia a sua dor; vai cuidando da ferida, vai limpando e te ajudando até que a dor passa, a ferida cicatriza. Você poderia muito bem parar de tentar aprender como andar de bicicleta, mas não o faz, porque tem algo ali que sempre te puxa de volta. Assim é o amor. Você se encanta, vive o amor e sofre pelo fim dele, mas sempre, mesmo com medo, repete esse ciclo a vida toda.
Quero te guardar numa caixinha bem decorada para ver se tu gosta dessa morada e não vai embora. Quero te guardar numa caixinha bem decorada para ninguém mais saber o quanto teu coração é bom e que ele já está comigo. Quero te guardar numa caixinha bem decorada, porque tu que decorou quando me deu amor e proteção para o meu coração, que, agora, é tua morada, caixinha bem decorada pelo nosso amar.

Mundo particular

Hoje eu quis escrever para aliviar a tormenta que meu coração se encontra. Corri atrás de tantas palavras, de tantos assuntos para falar, mas nenhum deles parece tão atraente. Resolvi gastar o tempo com nada, só colocando letrinhas para fora, um vômito poético, só para melhorar esse mal estar de emoções confusas, de paredes invisíveis, de grandes vazios. Está tudo no lugar, aparentemente, mas, no fundo, tem alguma coisa errada. A tranquilidade virou monotonia, o perigo está tão sexy. De repente, não quero mais um mar calmo, mas sim um mar tempestuoso no qual meu barco balance e que a adrenalina se espalhe pelo meu corpo. Não quero parar. Eu quero viver.
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